Durante a GamesCom 2009, a Sony tornou oficial que todo mundo já sabia: o PS3 Slim já está em pré-venda em grandes cadeias de e-commerce como Amazon, E-bay, K-Mart e Wal-Mart. Há quem lamente o fato de (partes) do hardware serem mais poderosas do que o modelo atual – vide o HD de 120GB e a possibilidade de uma versão do Slim com 250GB. Até aí, tudo bem: as diferenças de hardware raramente são fatores determinantes quando o assunto é videogame – ou o Wii não seria o maioral nas vendas. Mas uma coisa chamou toda a atenção para a Sony, de um jeito deveras negativo.
John Koller, da chefia de marketing da Sony Computer Entertainment (SCE), anunciou a descontinuidade da retrocompatibilidade – a capacidade do PS3 de reproduzir jogos de suas gerações anteriores – sem possibilidade de retorno. Não só para mim, mas para a quase totalidade da base de fãs do PlayStation, isso é um erro de tremendas proporções. O motivo para tal atitude seria, segundo John Koller, o fato “dos jogadores comprarem o PlayStation 3 para rodar jogos de PlayStation 3. Temos uma linha de frente consistente nesse aspecto”. Ele ainda foi categórico, dizendo que a retrocompatibilidade “não voltará”.
Você deve lembrar que, em 2006, os modelos PS3 vinham com parte do hardware do PS2 embutido, para rodar os jogos originais da geração passada. Posteriormente, o hardware foi abandonado, e a Sony passou a adotar a retrocompatibilidade por emulação de software, apenas para, nos modelos seguintes, tal recurso ser completamente descontinuado. Com o iminente anúncio do PS3 Slim e da inovadora firmware 3.00, especulações previam o retorno dessa capacidade, o que não ocorreu. Até o mais difícil – a queda de preço do aparelho – rolou, mas você não jogará seus clássicos do PS2 em um PS3.
Fato é que a Sony não considera necessária a adoção da retrocompatibilidade. E não estão errados: o PS3 não precisa disso. Mas a empresa liderada por Kaz Hirai está perdendo o foco, não sabendo diferenciar o supérfluo do trivial: o Xbox 360 não precisava dos avatares, mas enxergaram potencial, e hoje o console do Bill Gates tem conteúdo exclusivo integrado aos seus avatares – vide Guitar Hero 5. O mesmo vale para o Wii, com seus Miis, Virtual Console e WiiWare. Em suma, “desnecessário” não é o mesmo que “inútil”.
Tanta ênfase nesse assunto é para salientar que o mercado está seguindo por esse caminho. Eu, felizmente, não sofro desse problema, visto que o meu PlayStation 3 é justamente um dos modelos de lançamento: eu apenas insiro meu Final Fantasy X no drive, e o console faz o resto. Mas e você, seu colega de sala e a moça que trabalha no seu departamento? Todos são clientes em potencial que podem já ter um PS2, mas evitariam comprar o PS3 justamente por esse recurso ausente.
A Sony aposta em seu front de combate com títulos restritos à geração atual. É bom ver a confiança que eles têm no próprio taco. Mas é inegável o fato de que eles estão patinando em gelo fino: cedo ou tarde, o chão vai acabar cedendo.
Rafael Arbulu é editor-chefe do MSN Jogos, e desce o braço em Deus e o mundo às terças feiras, aqui no NoReset.
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