

É fato: os preços estão exorbitantes, e isso é opinião mundial. Sou membro de comunidades gamer grandes, como Destructoid, Joystiq e Kotaku, bem como perfis em enormes sites, e todos eles dizem a mesma coisa: videogame é caro. Dada a única relação que o Brasil divide com o resto do mundo nesse ingrato mercado, é de se esperar que os famosos “price slash” que permeiam esse ramo sejam recebidos em alegre coro.
Mas digo a você, leitor: não tem nada mais superestimado que um “presentinho pra fanboy” como esse. Em ditas comunidades, quando vejo os usuários reclamando de valores altos, exibo um panorama básico de preço aqui no Brasil (faço isso pra tudo, na verdade), mostrando que a situação, embora ruim para todos, é bem pior por aqui.
Antes de começar as explicações diretas, faz-se necessário um adendo: não sou rico, nem tampouco tenho grana para comprar todos os jogos e consoles que quero. Meu único console dessa geração foi presente de aniversário, é o único que tenho. Estou hoje desempregado e com o nome sujo, mas ainda assim, não fico nada contente quando uma queda de preço é anunciada.
Vamos aos porques: com o recente anúncio do Wii custando duzentas doletas no exterior, muita gente – jornalistas, inclusive – anda se perguntando “E o Brasil?”, na esperança de que estejamos, enfim, sob os holofotes das grandes produtoras. Mas, em relação ao pequeno azulejo nintendista, nada foi confirmado, e o preço continua o mesmo: aproximadamente R$ 1800,00 em lojas franquiadas; cerca de R$ 1000,00 em qualquer Santa Ifigênia da vida.
Não que eu não esperasse isso por conhecimento próprio, mas ainda assim, fui atrás dos fatos: levei a namorada/quase-noiva/tão-logo-esposa para o PromoCenter, ali na Rua Augusta, praticamente na esquina da Avenida Paulista, mas ao invés de me basear no Wii, decidi colocar mais hardware nessa minha pesquisa rudemente improvisada, e corri atrás do New PS3 Model, o famigeradamente popular PS3 Slim: a média a que cheguei – em um centro de produtos pirateados e pertencentes ao mercado cinza/negro, vale lembrar – foi de R$ 1700,00 a R$ 2100,00. Perguntei então pelo modelo anterior, aquele que todos estão mais familiarizados, e me informaram R$ 1400,00 a R$ 1700,00 de variação de preço.
WTF? Se o PS3 Slim foi desenvolvido, entre outras coisas, com o intuito de reduzir o preço da marca e alavancar os números da Sony Computer Entertainment para o ano de 2009, por que motivo ele chega a custar quase quinhentos reais a mais que seu predecessor? Detalhe: já informei, em minha primeira coluna, como é composto o PS3 Slim – o maquinário é, digamos assim, mais enxuto, justamente para economizar nos custos de produção.
Tal filosofia deve ser válida para o Nintendo Wii: não se sabe o que a Big N pretende com isso, já que sua hegemonia nessa geração de consoles já está praticamente garantida. Para mim, eles deveriam focar mais em jogos first-party que todo mundo quer, tipo um novo Mario (NOVO MESMO, não “Mario Qualquer Coisa 2”) e/ou um Zelda, megalomaníaco ao melhor estilo “Ocarina of Time” de ser.
Claro, não somos nada nem ninguém para questionar as manobras de mercado adotadas por determinada empresa, mas vale reiterar: o Wii mais barato dos gringos nada significará para os brazucas. Vivemos de promessas, e tentamos tirar nosso sustento delas: quanto tempo faz que a Sony anunciou o plano de entrada da família PlayStation no Brasil? Alguém aí já viu uma ação concreta? Falar de “permissões judiciais asseguradas” – como tudo o que se pretende fazer dentro da Zona Franca de Manaus, não vale. Quanto tempo faz que a própria Nintendo tirou sua posição de dentro do país, com a promessa de voltar, mas a Latamel consegue abrigar o Mercosul quase que em sua totalidade, e ignorar justamente o Brasil? Quanto tempo faz que temos uma Microsoft brasileira, mas que vive prometendo “a Live localizada para o ano que vem” desde os anos passados?
Acho difícil acreditar que as grandes produtoras enxerguem potencial mercadológico maior que o nosso em países como Argentina, Venezuela, Colômbia e outros que sequer chegam perto de dados como PIB e faixas de crescimento anual quando comparados ao Brasil. Claro, os números indicam algumas derrotas, mas vejam o macro: Buenos Aires ainda está algumas eras atrás de São Paulo, por exemplo.
A grande verdade é uma só: a fama de “brasileiro não desistir nunca” já começa a me dar nos nervos – e muita gente por aí vai concordar comigo. Está chegando ao ponto de abrirmos mão de nosso divertimento apenas por não enxergarmos esperanças. Eu, por ora, rezo para que o quadro mude – e que eu finalmente seja provado errado. Mas até lá, mantenho-me resoluto quando digo: o Wii caiu o preço lá fora? Tô pouco me f****do!
Rafael Arbulu é jornalista. Foi editor-chefe do MSN Jogos e agora desenvolve o projeto The Gamer. Sua coluna pode ser lida todas as terças-feiras, aqui no NoReset
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